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CONAD E AYAHUASCA 

O CONAD – CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS (ÓRGÃO FEDERAL DO GABINETE DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL) – DELIBERA QUE A AYAHUASCA, BEBIDA SAGRADA DE TRADIÇÃO XAMÂNICA, É UMA SUBSTÂNCIA INOFENCIVA A SAÚDE, QUE SUA FARMACOLOGIA É OBJETO DE ESTUDOS INTERNACIONAIS, DE TAL FORMA QUE A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU – POSSUI PARACER FAVORÁVEL A AYAHUASCA.

ESTAS SÃO INFORMAÇÕES CONTIDAS NA RESOLUÇÃO DO CONAD DO DIA 25 DE JANEIRO DE 2010 PUBLICADA NO DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO – D.O.U. – NO DIA SEGUINTE. A RESOLUÇÃO AINDA AFIRMA QUE O RITO DE COMUNHÃO DA AYAHUASCA SE CONSTITUI COM UM LEGÍTIMO ATO DE FÉ NO TERRITÓRIO NACIONAL.

Ayahuasca é uma bebida ancestral sem registros de sua descoberta. Há evidências arqueológicas, através de potes e desenhos, que levam a crer que o uso do chá era conhecido entre os povos do nosso continente pelo menos há 2.000 A.C. O primeiro registro oficial é datado de 1851, através do botânico Richard Spruce, famoso por um estudo minucioso da flora e fauna amazônica.

RESOLUÇÃO Nº 1, DE 25 DE JANEIRO DE 2010

 

RESOLUÇÃO DO CONAD

A Resolução Nº 4-CONAD, de 4 de novembro de 2004, postula:

“CONSIDERANDO que a participação no uso religioso da ayahuasca, de crianças e mulheres grávidas, deve permanecer como objeto de recomendação aos pais, no adequado exercício do poder familiar (art. 1.634 do Código Civil), e às grávidas, de que serão sempre responsáveis pela medida de tal participação, atendendo, permanentemente, à preservação do desenvolvimento e da estruturação da personalidade do menor e do nascituro;”

O Relatório final do Grupo Multidisciplinar de Trabalho – GMT Ayahuasca – do Conad, apresentado em 23.11.2006, afirma:

“IV.VIII – USO DA AYAHUASCA POR MENORES E GRÁVIDAS.

“GRÁVIDAS
35. Tendo em vista a inexistência de suficientes evidências cientificas e levando em conta a utilização secular da Ayahuasca, que não demonstrou efeitos danosos à saúde, e os termos da Resolução nº 05/04, do CONAD, o uso da Ayahuasca por menores de 18 (dezoito) anos deve permanecer como objeto de deliberação dos pais ou responsáveis, no adequado exercício do poder familiar (art. 1634 do CC); e quanto às grávidas, cabe a elas a responsabilidade pela medida de tal participação, atendendo, permanentemente, a preservação do desenvolvimento e da estruturação da personalidade do menor e do nascituro.”

 

JAGUBE

CHACRONA

Indicação Biocultural: Psychotria viridis, é uma planta conhecida como sagrada, sendo denominada de Rainha pelo Santo Daime, ou Chacrona, (Centro Espírita Beneficente União do Vegetal – UDV). É um arbustivo de pequeno porte (entre 2 e 3 metros de altura) podendo ser encontrado na Floresta Amazônica, além de México e das Antilhas, e da Bolívia até o Sudeste do Brasil e Argentina. Por questões religiosas, tornou-se amplamente cultivada, sendo encontrada em várias regiões do mundo. A espécie possui em suas folhas o alcaloide DMT, este sendo semelhante ao neurotransmissor serotonina (5-hidroxitriptamina) liga-se a receptores e age no Sistema Nervoso Central (SNC). Quando as folhas da P. viridis são associadas ao cipó da B. caapi ocorre uma combinação sinérgica, metabolizando a DMT, impedindo que esse alcaloide seja ativo quando administrado por via oral. O resultado dessa combinação culmina na elaboração da bebida, ou chá, ou vegetal, denominado Ayahuasca; composta pela associação de extratos aquosos das duas espécies, e possibilita o despertar do individuo para um mundo espiritual. Por ser rica em compostos bioativos, a bebida desencadeia ainda outras funções no organismo, sendo apontada em estudos sobre doenças neurológicas. o DMT pode estar associado a mecanismos de proteção e regeneração de células neurais; e os alcaloides do cipó combatem doenças degenerativas, a exemplo do Parkinson.

FONTE:  Centro Espírita Beneficiente UNIÃO DO VEGETAL

LABORATÓRIO DE TOXICOLOGIA – UNIVERSIDADE DE BRASILIA

Marcus Vinícius von Zuben, MD, PhD

A ayahuasca, também conhecida como hoasca, santo daime e vegetal, é um chá obtido da decocção de duas plantas, a psychotria viridis (chacrona, rainha), arbusto semelhante ao café e pertencente à família rubiaceae, e o banisteriopsis caapi (mariri, jagube, caapi, yagé), membro da família das malpighiaceae, cipó nativo da floresta amazônica. O mariri possui uma característica peculiar de acumular água, sendo útil como fonte alternativa durante a sobrevivência na selva.

Nas folhas da chacrona está o princípio ativo N,N-dimetiltriptamina (DMT), agonista não seletivo dos receptores de serotonina, e cuja ação  no receptor 5-HT2A  promove os efeitos cognitivos e sensoriais da bebida, referida por alguns usuários como miração.  O cipó mariri contém as β-carbolinas harmina, harmalina e tetrahidroharmina, que são alcaloides inibidores da monamino-oxidase-A (IMAO), enzima responsável pela degradação da serotonina. A ayahuasca é uma combinação perfeita entre estas duas plantas que agem sinergicamente. O DMT seria rapidamente inativado pelas IMAOs presentes no fígado e intestino caso não houvesse a presença das β-carbolinas.

O uso da ayahuasca é parte da cultura ancestral de várias tribos da região amazônica do Brasil, Peru e Bolívia incluindo os Ashaninkas, Kaxinawás, Ticunas e Tucanos. A partir da década de 1930 foi introduzida nos rituais de religiões cristãs no Brasil, como a União do Vegetal, Santo Daime, Barquinha e Alto Santo, em sessões que ocorrem, geralmente, a cada 14 dias. Esse uso religioso tem amparo legal no país desde 1986, por meio da Resolução nº 6 do Conselho Federal de Entorpecentes, sendo, posteriormente corroborada pela Resolução Nº 1 CONAD, de 25 de janeiro de 2010, que também proibiu a comercialização do chá e reafirmou a necessidade de estudos científicos que assegurem um possível uso terapêutico. O uso religioso da ayahuasca também tem respaldo legal em outros países, inclusive os Estados Unidos e Holanda, Recentemente, a ayahuasca foi reconhecida como patrimônio imaterial da cultura Brasileira.

A dose letal aguda da ayahuasca em ratos corresponde a mais de 50 vezes a dose ritual em humanos, confirmando a segurança do uso desta bebida no contexto religioso. Porém, o uso recreativo desta bebida pode representar um risco para o usuário, e deve ser coibido pelas autoridades responsáveis.

Usuários da ayahuasca no âmbito das religiões relatam vários benefícios para sua saúde mental, espiritual e física. Adicionalmente, estudos indicam o potencial terapêutico desta bebida no tratamento de várias enfermidades, incluindo a dependência química e a depressão. A harmina, β-carbolina de maior concentração presente no mariri, possui ação antitérmica, antibiótica, antifúngica, antimalárica, antileishmaniose e quimioterápica. O potencial uso terapêutico da ayahuasca é uma linha de pesquisa promissora no país, que deve ser apoiada pelos órgãos de fomento, principalmente pela disponibilidade da matéria prima para sua preparação no nosso território.    

Literatura

Brierley, D.I.; Davidson, C. (2012). Developments in harmine pharmacology implications for ayahuasca use and drug-dependence treatment. Prog. Neuropsychopharmacol. Biol. Psych. 39, 263-272.

Callaway, J. C.; Raymon, L.P.; Hearn, W. L.;McKenna, D.J.;Grob, C.S.;Brito, G.S.;Mash, D. C (2006).Quantitation of N,N-dimethyltryptamine and harmala alkaloids in human plasma after oral dosing with ayahuasca. J Anal Toxicol.20(6):492-7.

Labate, B., Feeney, K. (2012). Ayahuasca and the process of regulation in Brazil and internationally: implications and challenges. Int. J. Drug Policy 23, 154–161.

Lamprea, M.R., Cardenas, F.P., Setem, J., Morato, S. (2008). Thigmotactic responses in McKenna, D. J. (2004). Clinical investigations of the therapeutic potential of ayahuasca: rationale and regulatory challenges. Pharmacol. Therapeutics 102, 111 – 129.

Osório, F. de L.; Sanches, R. F.; Macedo, L. R. et al. (2015).Antidepressant effects of a single dose of ayahuasca in patients with recurrent depression: a preliminary report.Rev Bras Psiquiatr;37(1):13-20.

Pic-Taylor, A.; Motta, L. G.; Morais, J. A.;Junior, W. M.; Santos, A. F.; Campos, L. A.; Mortari, M. R.; Zuben, M. V.;Caldas, E. D. (2015). Behavioural and neurotoxic effects of ayahuasca infusion (Banisteriopsis caapi andPsychotria viridis) in female Wistar rat. Behav Processes.118:102-110.

Santos, R.G. (2013). A critical evaluation of reports associating ayahuasca with life-threatening adverse reactions. J. Psychoact. Drugs 45, 179–188.

Thomas, G.; Lucas, P., N.; Capler, R., Tupper,K. W.; Martin,G. (2013). Ayahuasca-Assisted Therapy for Addiction: Results from a Preliminary Observational Study in Canada. Current Drug Abuse Reviews, 6, 30-42.

AYAHUASCA É CAPAZ DE CURAR DEPRESSÃO, DIZ ESTUDO

Um estudo inédito realizado com seis voluntários com diagnóstico de depressão recorrente obteve resultados positivos na diminuição dos sintomas com a utilização da planta medicinal ayahuasca. A pesquisa é a única realizada com humanos em laboratório e foi conduzida na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto(SP), com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universitat Autônoma de Barcelona, na Espanha.

Seis pacientes com histórico de depressão recorrente receberam uma dose única de ayahuasca (2,2 ml/kg de peso). Os resultados apontaram que 24 horas após a ingestão do chá, os voluntários relataram diminuição dos sintomas depressivos em cerca de 62%, em média.  Os resultados foram publicados recentemente na Revista Brasileira de Psiquiatria.

Sete dias após o uso, a diminuição dos sintomas foi superior a 72%. Além disso, a ayahuasca foi bem tolerada pelos voluntários. “Apenas vômitos foram relatados como efeitos colaterais e adversos por 50% dos voluntários”, explicou a médica Flávia Osório, docente da Divisão de Psiquiatria  e Pesquisadora do Laboratório de Psicofarmacologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. Segundo Flávia, os vômitos ocorreram ao longo da sessão experimental e foram considerados como parte dos efeitos colaterais da ayahuasca.

“Esses resultados são muito estimulantes e apontam para um efeito antidepressivo da ayahuasca bastante expressivo. Este achado é interessante, pois entre as limitações atuais, associadas aos tratamentos farmacológicos atualmente disponíveis para depressão, está o tempo de ação para atingirem seus efeitos terapêuticos completos, que é de no mínimo 10 dias”, explica.

O chá é preparado com a casca e tronco do vegetal Banisteriopsis, popularmente conhecido como Jagube, e escaldado com folhas de outro vegetal, a Psychotria sp, conhecida como chacrona. As espécies comumente utilizadas são a Banisteriopsis caapi e a Psychotria viridis.

Os princípios ativos mais importantes produzidos pela bebida psicoativa são as betacarbolinas e a dimetiltriptamina (DMT). As substâncias atuam no nível de serotonina no cérebro. A serotonina é um neurotransmissor capaz de dar ao cérebro sensação de bem-estar, regulando o humor e dando sensação de saciedade.

Atualmente, os pesquisadores estão ampliando a amostra deste estudo piloto de forma a confirmar os achados iniciais e novas pesquisas são realizadas envolvendo exames de neuroimagem. Neste novo estudo, o objetivo é observar quais os efeitos do chá no funcionamento cerebral. Segundo Flávia, os resultados serão divulgados em revistas científicas em breve. Entretanto, a pesquisadora considerou precoce adiantar qualquer informação sobre o novo estudo.

Ansiedade e dependência química

A ayahuasca é uma bebida consagrada há séculos, principalmente na região da América Latina. Os Incas, os Maias, os Aztecas e diversas etnias indígenas no território brasileiro utilizavam a bebida em seus rituais e a consideravam sagrada. No Brasil a bebida é legalizada para fins religiosos e consagrada em diversos rituais, o mais conhecido é o do Santo Daime.

Os efeitos da ayahuasca ainda são investigados ao menos para mais dois tipos de tratamento: ansiedade e dependência química. Entretanto, nenhum deles ainda foi testado com humanos em laboratório. “Os outros estudos com a ayahuasca são feitos com membros da religião Santo Daime, que usam o chá neste contexto religioso e que relatam, por exemplo, melhora de quadros de dependência química, mas, por trás, tem todo o contexto religioso”, pondera Flávia.

No caso da ansiedade, os estudos começaram depois que os pacientes depressivos tratados com o chá que apresentavam sintomas ansiosos relataram diminuição significativa também da ansiedade, mas ainda não há detalhes sobre eles.

Já os efeitos da ayahuasca no tratamento de dependentes químicos têm sido bem promissores. “Os resultados apresentados no tratamento de um grupo significativo de pessoas vêm mostrando que a ayahuasca pode ajudar no combate à dependência de maneira bem eficaz”, disse o professor-doutor Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.  

Entretanto, os resultados ainda estão sendo pesquisados e os especialistas são unânimes sobre o fato de que a bebida não deve ser consumida em casa. Eles também ressaltam que a ayahuasca não será prescrita por nenhum psiquiatra, pois ela ainda não se caracteriza como uma medicação ou forma de tratamento.

No Brasil, o Conselho Nacional Antidrogas retirou a ayahuasca da lista de drogas alucinógenas conforme portaria publicada no Diário Oficial da União em 10 de novembro de 2004, permitindo o uso nos rituais religiosos.

Questionados sobre quanto tempo ainda seria necessário para a conclusão dos estudos e a eventual comercialização de medicamentos à base da ayahuasca, os especialistas afirmam que é importante que a população entenda que um dos objetivos principais das pesquisas é conferir segurança ao uso dessa substância. 

Fonte: DOL

NA FORÇA DA AYAHUASCA
Um Caminho de Expansão da Consciência


INTRODUÇÃO

Existem momentos na vida em que algo mais profundo nos chama. Um sussurro que não vem dos ouvidos, mas da alma. Para mim, esse chamado se apresentou há mais de duas décadas — silencioso e ao mesmo tempo urgente — como um impulso que não podia mais ser ignorado. Foi assim que a Ayahuasca entrou em minha vida, não como uma curiosidade, mas como uma resposta.

Este livro nasce desse encontro sagrado com a Mãe Medicina. Um encontro que me transformou, me desfez, me reergueu e me ensinou a olhar para a vida com os olhos do espírito. Não escrevo aqui como mestre, nem como guia, mas como alguém em caminho — um peregrino da consciência que foi tocado por algo maior do que palavras pode expressar, mas que mesmo assim deseja compartilhar.

As experiências descritas ao longo deste livro não pretendem ser verdades absolutas, tampouco dogmas espirituais. São vivências pessoais, visões, insights, momentos de cura e comunhão com o divino que aconteceram sob a força da Ayahuasca. São testemunhos de uma alma em busca de si mesma, de suas raízes, de sua missão e de sua luz.

A Ayahuasca, para mim, é mais do que uma bebida sagrada. Ela é uma inteligência viva, uma mestra espiritual que ensina através do amor e da verdade. Em suas sessões, fui levado às profundezas do meu ser, confrontado com dores que eu escondia, e acolhido por uma sabedoria que só pode vir do coração da floresta.

Este livro é um convite: a abrir o coração, a ouvir a intuição, a recordar quem somos por detrás das máscaras do ego e das exigências do mundo. Que cada palavra aqui escrita seja uma semente. E que cada semente encontre solo fértil na consciência de quem lê.

A jornada é pessoal, mas nunca solitária. Que esta leitura possa ser um espelho, um farol, ou quem sabe, um aceno do universo para que você também escute o chamado.

O Chamado da Floresta

Há chamados que não se ouvem com os ouvidos. Eles vibram em outra frequência, mais sutil, mais íntima. Vêm como sonhos insistentes, encontros improváveis, ou aquela sensação de que “algo está por vir”. Foi assim que o chamado da Ayahuasca começou a se manifestar na minha vida — de forma silenciosa, mas impossível de ignorar.

Não foi de uma hora para outra. Primeiro vieram as conversas. Pessoas que eu mal conhecia começavam a mencionar a medicina em momentos completamente inesperados. Um livro que caiu das prateleiras, um vídeo aleatório, uma frase solta que parecia vir direto ao meu coração. Tudo apontava para a floresta. Tudo me levava à Ayahuasca, mesmo que eu ainda não soubesse exatamente o que era ou o que ela faria em mim.

O curioso é que, mesmo sem saber, eu já a esperava. Algo em mim ansiava por esse encontro há muito tempo. Cansado das respostas prontas, das distrações do mundo e de uma busca espiritual que muitas vezes parecia vazia, eu queria algo verdadeiro, visceral. Queria sentir Deus — não através de palavras, mas na pele, nos ossos, na alma. E a Ayahuasca respondeu.

Minha primeira cerimônia foi marcada por uma mistura de medo e esperança. O local era simples, mas carregado de uma energia diferente. Havia silêncio e reverência no ar. Quando a medicina foi servida, senti que algo sagrado estava acontecendo. Ao beber, fechei os olhos, respirei fundo e me entreguei.

O que aconteceu nas horas seguintes não pode ser plenamente descrito — apenas vivido. A sensação era de estar sendo desvendado por dentro, como se camadas antigas, crenças, dores e memórias estivessem sendo gentilmente trazidas à luz. Senti a presença de algo maior, como uma consciência amorosa me guiando por dentro de mim mesmo. Chorei, sorri, lembrei, entendi. Era como voltar para casa depois de muito tempo perdido.

Saí daquela noite diferente. Algo em mim havia mudado. Não por uma ideia nova, mas por uma vivência profunda. A floresta me tocou. A Ayahuasca me mostrou que existe um caminho de verdade — e que ele começa dentro.

Esse foi o início da jornada. A primeira de muitas noites em que a medicina me mostraria que o universo é muito mais vasto do que imaginamos — e que a maior floresta que existe é aquela que carregamos em nosso coração.

A Mãe Medicina

Depois da primeira experiência, algo mudou para sempre dentro de mim. Eu havia conhecido uma força que não era apenas uma substância ou um efeito. Era uma presença. Um espírito. Uma consciência amorosa, sábia e profunda, que eu passei a chamar de Mãe Medicina.

Ela não falava com palavras, mas com sentimentos, visões, intuições. Seu ensinamento era silencioso e direto. Em algumas noites, me abraçava com ternura, mostrando a beleza da vida, o amor que me habita, a conexão com o Todo. Em outras, me confrontava com verdades que eu havia enterrado, com sombras que eu evitava ver, com dores que precisavam ser sentidas para serem curadas. Mas em todas elas, havia amor.

Percebi que a Ayahuasca não era apenas um caminho de luz. Era um caminho de verdade. E a verdade, às vezes, dói. Mas a dor, quando acolhida com consciência, se transforma em medicina. A Mãe não ilude, não enfeita, não negocia com o ego. Ela mostra. Ela revela. E é justamente por isso que cura.

Com o tempo, comecei a reconhecer sua voz. Um silêncio cheio de sentido. Uma presença que me envolvia nos momentos de rendição, quando eu já não tentava entender com a mente, mas apenas sentir com o coração. Aprendi que cada cerimônia é única, e que ela dá exatamente o que precisamos — nem mais, nem menos.

Houve noites em que ela me levou para outros mundos, para reinos de luz, onde seres espirituais dançavam em harmonia com a vibração do universo. Em outras, me colocou diante da criança ferida que ainda vivia dentro de mim, esperando ser ouvida. Também me mostrou meus erros, minhas falhas, minhas ilusões — mas sempre com compaixão. Nunca para julgar, mas para libertar.

Comecei a entender que o verdadeiro poder da Ayahuasca não está nas visões, mas na transformação que acontece quando nos entregamos de verdade. Quando deixamos de resistir e permitimos que a Mãe nos conduza para dentro. Para dentro de nós, da vida, do mistério.

Ela me ensinou sobre ciclos, sobre morte e renascimento, sobre o tempo da alma. Me mostrou que cada ser tem seu ritmo, e que não há pressa no despertar. O importante é caminhar com sinceridade, com humildade, com escuta.

Hoje, a Mãe Medicina é uma presença viva em meu caminho espiritual. Não está apenas nas cerimônias, mas nas escolhas que faço, nas palavras que digo, na maneira como olho para os outros e para mim mesmo. Ela me ensinou — e ainda ensina — que viver com consciência é um ato de amor.

Moradas Internas

Beber a Ayahuasca é como abrir as portas de um templo secreto: o templo de si mesmo. A medicina não nos leva para fora, como muitos pensam, mas profundamente para dentro. Ela ilumina os corredores escuros da alma, revelando as salas esquecidas, os porões trancados, os altares sagrados que muitas vezes ignoramos ao longo da vida.

Cada vez que fecho os olhos sob a força da medicina, é como se atravessasse portais. Entro em mim, e ali encontro múltiplas camadas da minha própria existência. Em algumas, sou o adulto que pensa, decide, tenta controlar. Em outras, sou a criança que chora, sente medo, pede colo. Mais adiante, descubro algo ainda mais profundo: uma presença silenciosa, amorosa, atemporal — o que chamo de minha essência, meu espírito.

A Ayahuasca me levou muitas vezes ao encontro dessa essência. Mas, antes de chegar até ela, precisei atravessar as dores. Vi memórias antigas que eu havia enterrado, revivi situações que deixaram marcas, senti emoções que há anos estavam adormecidas. A medicina não apagou essas feridas — ela me convidou a senti-las de novo, com consciência. E só então, a cura começou.

É dentro dessas “moradas internas” que reencontrei partes de mim que eu havia abandonado: o menino que se sentia sozinho, o adolescente que não sabia seu lugar no mundo, o homem que buscava amor sem saber se era digno dele. A Ayahuasca me mostrou que todas essas versões de mim ainda estavam vivas, esperando serem ouvidas, acolhidas, integradas.

Mas também há luz nesses espaços. Encontrei moradas onde habita a paz, a intuição, a força do espírito. Vi que, mesmo em meio ao caos, há uma parte de mim que permanece intacta — como um ponto de silêncio no centro do furacão. Essa parte, eu aprendi, é o que sou de verdade.

Percebi que a consciência não é algo que se conquista, mas que se revela. Está em nós desde sempre, mas foi sendo coberta por medos, condicionamentos, traumas e crenças. A Ayahuasca, como uma cuidadora da alma, vai tirando essas camadas com amor e firmeza, até que possamos enxergar a nós mesmos com clareza.

Nas moradas internas, também encontrei o sagrado. Houve momentos em que tudo dentro de mim se silenciou, e eu fui apenas presença. Um estado de paz tão profundo que as palavras não alcançam. Nesses instantes, entendi que Deus não está fora — Ele vive em cada célula, em cada batida do coração, em cada respiração consciente.

A jornada interior não é fácil. Ela exige coragem para olhar, humildade para reconhecer e compaixão para acolher. Mas é nesse mergulho que a verdadeira expansão acontece. Não nos tornamos outros — nos lembramos de quem somos.

Entre Céus e Terras

Há momentos sob a força da Ayahuasca em que a realidade como conhecemos começa a se dissolver. As formas perdem seus contornos, o tempo deixa de seguir sua linha habitual, e o corpo físico parece se tornar apenas um ponto de referência entre muitos. É como se a alma tomasse as rédeas da experiência, atravessando véus e dimensões invisíveis aos olhos comuns.

É nesse espaço que a medicina nos leva entre céus e terras — entre o visível e o invisível, o mundano e o sagrado, o humano e o divino.

Em algumas dessas viagens, fui elevado a reinos de luz. Vi seres que emanavam paz e sabedoria, formas que pareciam feitas de som e intenção. Em sua presença, não havia medo — apenas reverência. Não me falavam com palavras, mas com vibrações, como se eu simplesmente soubesse o que estavam comunicando. Eram mensagens sobre amor, sobre unidade, sobre o propósito maior da existência.

Em outras noites, fui levado ao encontro dos meus ancestrais. Sentia suas presenças ao meu redor, fortes, silenciosas, como guardiões invisíveis. Alguns eu conhecia de nome, outros eram apenas sensação e energia, mas todos carregavam um chamado profundo à reconexão com minhas raízes. A Ayahuasca me mostrou que não estamos sós — somos continuidade. Somos o presente de uma linhagem, e cada cura que vivemos ecoa para trás e para frente no tempo.

Também houve momentos em que me senti parte da Terra. Literalmente. Meu corpo parecia se dissolver no solo, e eu me tornava árvore, rio, pedra. Sentia o pulso do planeta como o próprio bater do meu coração. Foi nesses momentos que compreendi que a separação entre “eu” e “natureza” é uma ilusão. Somos feitos da mesma vida, da mesma dança sagrada que move tudo.

Mas nem tudo era luz. Entre os céus e as terras, há também sombras. Em certas viagens, cruzei por campos escuros, por emoções densas, por energias que pareciam querer me testar. A Ayahuasca não me poupou desses encontros. Mas nunca me deixou só. Ela me mostrou que até mesmo essas forças têm algo a ensinar — sobre medo, sobre poder, sobre discernimento. Com ela, aprendi que a luz verdadeira não é ausência de sombra, mas a consciência que sabe caminhar entre elas.

Essas experiências me transformaram profundamente. Depois de ver e sentir tudo isso, é impossível voltar a viver como antes. A realidade se torna mais ampla, mais viva, mais conectada. Passamos a enxergar sinais onde antes havia acaso, a escutar a intuição como uma bússola confiável, e a viver com mais presença, como se cada instante fosse parte de um grande rito.

Entre céus e terras, entendi que o espírito humano é infinito em sua essência. Que viemos da luz, passamos pela matéria, e voltamos para casa — muitas vezes dentro de nós mesmos.

A Integração do Sagrado

A verdadeira expansão da consciência não acontece apenas nas noites de cerimônia. Ela se revela, pouco a pouco, nos dias que se seguem — quando voltamos ao mundo com os olhos um pouco mais abertos e o coração um pouco mais desperto.

Integrar o que vivemos com a Ayahuasca é talvez a parte mais desafiadora e, ao mesmo tempo, mais transformadora do caminho. É fácil sentir-se conectado ao divino no meio do canto, da floresta, da força. Difícil mesmo é manter essa conexão no trânsito, na rotina, nas relações, nos momentos de conflito e dúvida.

A Mãe Medicina me ensinou que o sagrado não está separado do cotidiano. Pelo contrário: ele mora justamente nos pequenos gestos, nas palavras que escolhemos, no modo como tratamos o outro e a nós mesmos. Cada pensamento, cada ação, cada escolha pode ser uma forma de oração.

Durante muito tempo, eu buscava nas cerimônias a transcendência — aquele estado elevado, fora do tempo, onde tudo faz sentido e o amor pulsa em cada célula. Mas aos poucos compreendi que a verdadeira transcendência acontece quando conseguimos trazer aquela consciência para a vida real. Quando transformamos visão em atitude, intuição em direção, espiritualidade em presença.

Aprendi que não basta ter uma visão linda se eu continuo agindo com egoísmo. Que não adianta falar de amor universal se eu não consigo perdoar minha própria história. Que de nada serve “viajar” aos céus se eu não sou capaz de estar inteiro aqui na Terra.

A integração é um exercício constante. É olhar para dentro todos os dias. É manter a escuta aberta mesmo fora da cerimônia. É cuidar do corpo, das emoções, dos pensamentos. É reconhecer quando estamos nos afastando do centro — e voltar, com humildade.

Percebi que a medicina continua agindo mesmo depois que o efeito físico passa. Ela trabalha nos sonhos, nos encontros, nos desafios do dia a dia. Às vezes, uma situação difícil surge e, ao invés de reagir como antes, percebo que estou sendo testado: “Você aprendeu mesmo o que lhe foi mostrado?”. E é aí que a verdadeira cura começa a tomar forma.

Também entendi que cada pessoa tem seu próprio tempo de integração. Não se trata de virar “perfeito”, mas de estar presente. Cometer erros, sim — mas errar com consciência, e aprender. Voltar ao centro, cada vez com mais leveza.

Hoje, vivo com mais silêncio por dentro. Não um silêncio de ausência, mas de presença. Como se a Ayahuasca tivesse afinado meus sentidos para o sutil. O sagrado está em tudo: no olhar de um estranho, no aroma do café, na brisa tocando o rosto. E cada pequeno instante se torna, de novo, uma cerimônia.

Integrar é isso: permitir que a vida seja o templo onde o espírito se manifesta. E lembrar, todos os dias, que a cura não termina — ela se aprofunda.

Palavras da Floresta

A floresta fala. Não como nós, com frases ou discursos, mas com uma linguagem mais antiga que as palavras — feita de vento, cheiro de terra molhada, cantos noturnos, movimentos de folhas e asas. A floresta tem voz. E quando o coração silencia, é possível ouvi-la.

Nas noites de cerimônia, quando a medicina já corre em minhas veias e o mundo externo começa a se dissolver, muitas vezes me vejo diante da mata em seu estado mais puro. Às vezes a visão é interna, às vezes estou de fato ali, cercado pelas árvores, debaixo das estrelas. E sempre que me abro à escuta, ela fala.

“Respira, filho da Terra”, ela me disse uma vez, enquanto uma brisa leve balançava os galhos acima de mim. “Você não precisa entender. Precisa sentir.”

Outras vezes, suas palavras vinham como imagens: uma árvore centenária mostrando sua raiz profunda, me ensinando sobre paciência e sustentação. Um beija-flor em pleno voo, trazendo a mensagem da leveza em meio ao esforço. O som distante de um curió, que me lembrava que o canto é uma forma de oração.

A floresta é uma mestra que não impõe, não acelera. Tudo nela tem um tempo, um ciclo, um propósito. Nenhuma folha cai fora da hora. Nenhuma semente brota antes do tempo. E talvez o maior ensinamento seja esse: confiar. Confiar no processo da vida, na inteligência da existência, no fluxo que nos move mesmo quando não o compreendemos.

Durante uma das cerimônias, ouvi claramente dentro de mim:
“Seja simples. A verdade é simples. O amor é simples. O caminho é simples.”
Mas percebi que, para tocar essa simplicidade, eu precisava desaprender muita coisa. Desfazer os nós que a mente fez. A floresta me ensinava com sua humildade silenciosa, com sua beleza que não precisa ser explicada para ser sentida.

Também houve noites em que a floresta parecia sussurrar lembranças de outras vidas, outras existências. Cânticos em línguas que minha boca nunca aprendeu, mas minha alma parecia reconhecer. Vozes de mulheres antigas, xamãs, curandeiros, animais que falavam com a sabedoria dos ancestrais. Tudo ali, pulsando junto com o tambor do coração.

As palavras da floresta não são para serem guardadas num livro, mas vividas. Ainda assim, algumas permanecem comigo, ecoando até hoje em momentos de silêncio. Pequenos lembretes:

– Tudo o que você busca já está em você.
– Curar é lembrar-se de quem você é.
– O espírito não tem pressa.
– O amor é a linguagem da Terra.
– Você não está separado. Nunca esteve.

Cada vez que volto para a floresta, sinto que volto para mim. Ela me devolve ao essencial. Me mostra o que realmente importa. E mesmo longe dela, levo sua voz comigo. Porque depois de escutar o coração da mata, nunca mais se caminha sozinho.

Para Quem Chega Agora

Se você está chegando agora… bem-vindo. Você não está aqui por acaso. Ninguém chega à medicina sem ser chamado. Mesmo que você ache que veio por curiosidade, por um convite de um amigo, ou por uma dor que não encontrou cura em nenhum outro lugar — saiba: há uma inteligência maior guiando seus passos. E ela o trouxe até aqui.

A primeira coisa que posso te dizer é: respeite. A Ayahuasca não é uma “experiência psicodélica”, um evento exótico ou uma resposta fácil. Ela é uma medicina sagrada. Uma força ancestral que carrega a sabedoria de povos inteiros, de florestas inteiras, de espíritos antigos. Quando você se senta para consagrá-la, você está entrando num campo muito mais amplo do que pode imaginar.

Venha com humildade. Venha com o coração aberto. Mas venha também preparado. Porque a medicina não mostra apenas o que é bonito — ela mostra o que é verdadeiro. E a verdade, às vezes, dói. A Ayahuasca pode te fazer rir, chorar, cantar, vomitar, silenciar. Pode te levar às estrelas ou ao fundo da sua própria sombra. Tudo isso faz parte do mesmo caminho.

Talvez você tenha medo. Tudo bem. O medo é natural quando estamos diante do desconhecido. Mas confie: você será guiado. A medicina sabe o que faz. Ela age com precisão cirúrgica e amor incompreensível. E você não estará sozinho. Os que servem a medicina, os guardiões da força, estão ali por você. E mais ainda: seu espírito estará com você.

Se posso te dar um conselho, é este: não tente controlar. Não lute contra o que vem. Entrega. Respira. Permite. Mesmo quando parecer difícil, respira de novo. Tudo passa. Tudo ensina. Tudo cura.

Depois da cerimônia, cuide da sua integração. Silencie. Escreva. Caminhe na natureza. Escute seu corpo, seus sonhos, suas emoções. A medicina continua agindo mesmo depois que o efeito passa. Honre esse processo.

Não se compare com os outros. Cada jornada é única. Não existe certo ou errado na forma como se sente a força. Às vezes, o que parece “nada aconteceu” por fora é, por dentro, uma grande movimentação. Confia no seu tempo. No seu processo. Na sua verdade.

E lembre-se: Ayahuasca não é fim. É início. Ela não vai te salvar. Vai te mostrar o caminho. Mas é você quem vai ter que caminhar. Com coragem, com sinceridade, com presença.

Se você chegou até aqui, talvez algo em sua alma esteja despertando. E isso, por si só, já é uma bênção. Cuide desse chamado com carinho. Caminhe com respeito. E saiba: a medicina vai te ensinar mais sobre você do que qualquer livro, qualquer mestre, qualquer teoria. Porque ela te conduz de volta para casa — para dentro de você.

Seja bem-vindo à trilha da verdade. A jornada é sua. Mas você nunca mais estará sozinho.

Código de Ética Espiritual para o Caminho da Ayahuasca

O caminho com a Ayahuasca é sagrado, e cada passo deve ser dado com reverência. A medicina revela mais do que visões — ela revela verdades profundas sobre nós mesmos, sobre a vida e sobre o universo. Para que essa jornada seja plena e curadora, é importante adotar uma postura ética que sustente o processo.

Aqui estão algumas diretrizes para aqueles que chegam à medicina com seriedade e desejo de transformação:

  1. Respeito à Medicina
    A Ayahuasca é uma medicina sagrada, carregada de sabedoria ancestral. Ela deve ser tratada com respeito e gratidão. Não é um “produto” ou uma experiência para consumo casual. Cada dose, cada cerimônia, deve ser vivida com reverência. Ao beber a medicina, entre com o coração aberto e sem expectativas. Esteja pronto para o que ela te trouxer, sem querer controlar ou forçar uma experiência.
  2. Humildade
    Esteja ciente de que a Ayahuasca pode revelar aspectos da sua alma que você não esperava ver. Ela não faz concessões ao ego, e sua humildade é necessária para acolher o que surgir. Não se sinta superior à experiência ou a quem está ao seu redor. Todos estão em um caminho de cura e aprendizado.
  3. Escuta Ativa
    A medicina fala de formas sutis. Sua sabedoria se manifesta em silêncios, visões, sensações. Desenvolva a capacidade de escutar não apenas com os ouvidos, mas com o coração. Não há respostas prontas — há revelações. Abra-se para o que surgir, sem pressa de entender tudo.
  4. Confiança no Processo
    A Ayahuasca segue um fluxo próprio, e muitas vezes o que buscamos nem sempre é o que precisamos naquele momento. Confie no processo. Mesmo que a experiência seja difícil, lembre-se de que ela tem um propósito. Não há perda no caminho da medicina. Cada passo, por mais desafiador que seja, é uma oportunidade de cura e aprendizado.
  5. Silêncio e Integração
    O pós-cerimônia é tão importante quanto o momento da ingestão. O silêncio é necessário para que a medicina continue a atuar. Dê-se o tempo necessário para integrar a experiência. Evite falar demais sobre as vivências logo após a cerimônia, pois o processo de integração é interno e deve ser respeitado. Às vezes, as palavras podem dissipar a energia sutil da experiência.
  6. Respeito ao Outro
    Cada pessoa tem seu próprio caminho, e sua jornada com a Ayahuasca é única. Não há comparação. Evite julgamentos sobre as experiências alheias, pois cada alma é tocada de forma diferente. Esteja presente para o outro com compaixão e compreensão. O que é curador para um pode ser diferente para o outro.
  7. Consciência no Uso da Medicina
    O uso da Ayahuasca deve ser feito com discernimento. Ela não deve ser buscada apenas por curiosidade, desejo de escapismo ou busca por respostas fáceis. A medicina pede que o buscador esteja em um processo genuíno de autoconhecimento e transformação. Se sentir que não está pronto ou que sua motivação não é clara, espere.
  8. Cuidados com o Corpo e a Mente
    Prepare-se física e mentalmente para a cerimônia. Respeite as orientações sobre dieta e preparo. A medicina é sensível ao estado do corpo e da mente, e o seu comportamento e escolhas antes da cerimônia podem influenciar a profundidade e clareza da experiência. Evite álcool, drogas, e qualquer substância que interfira na pureza do processo.
  9. Proteção Espiritual
    Mantenha sempre a intenção de estar protegido e guiado pela luz. Muitos buscam a medicina com o desejo de entrar em contato com outros planos, mas a Ayahuasca deve ser bebida com discernimento. Ela te levará aos lugares que você precisa ir, mas é essencial manter a intenção de estar cercado por forças de luz e amor. Proteja-se espiritualmente e não entre em qualquer caminho sem estar consciente de sua intenção.
  10. Gratidão
    Ao final de cada cerimônia, ao voltar do “mundo” da Ayahuasca, tome um momento para agradecer — à medicina, à natureza, à sua vida, e ao seu espírito. O caminho é de gratidão constante, pois a medicina é um presente, e o que ela oferece é um convite para uma nova forma de viver.

A Jornada Continua

E assim chegamos ao fim deste capítulo, mas não ao fim da jornada. A Ayahuasca, como a vida, não é algo que se resolve em um único momento ou em uma única experiência. Cada cerimônia é uma página em branco, e cada insight é uma semente que se planta em solo fértil. Uma nova flor, um novo despertar, brota a cada passo que damos.

A jornada que a medicina nos propõe não é linear, nem simples. Ela exige de nós a coragem de olhar para dentro, de confrontar as sombras que habitam nossa alma, e de amar, sem reservas, tudo o que somos. Não se trata apenas de expandir a consciência em momentos elevados, mas de integrar essa expansão nas vibrações do cotidiano, na terra onde nossos pés estão fincados. Ela exige que enfrentemos nossas fraquezas e nossas forças, que aceitemos nossas imperfeições e, ao mesmo tempo, que nos aproximemos da grandeza que reside em nós.

Em cada encontro com a medicina, percebemos que somos mais do que nossas limitações, mais do que as histórias que contamos, mais do que os medos que nos definem. A Ayahuasca é uma porta que se abre para revelar um vasto campo de possibilidades — onde o antigo e o novo se encontram, onde o espiritual se funde com o físico. Ela nos lembra que somos parte de algo muito maior do que nossa compreensão racional pode alcançar. Somos uma pequena, mas essencial, expressão do grande mistério da vida.

Mas, por mais profundas que sejam as revelações, a verdadeira jornada com a Ayahuasca não se resume ao que ocorre nas cerimônias. O caminho continua além delas, na forma como vivemos, amamos, trabalhamos, convivemos e nos relacionamos com o mundo. As visões que a medicina oferece são apenas um ponto de partida. O verdadeiro teste está em como essas visões se transformam em ações concretas no mundo. A medicina nos oferece a visão do que podemos ser, mas somos nós que devemos fazer o trabalho diário de viver conforme essa verdade.

A jornada nunca é sobre encontrar um estado final de perfeição, mas sobre aprender a fluir com os altos e baixos, com as quedas e os reergueres. Não há um “eu curado” em um sentido fixo, mas um “eu em constante cura”. O caminho da Ayahuasca é um convite a viver em evolução contínua, com amor, compaixão e sabedoria. Porque o processo nunca termina. A cada ciclo, a cada cerimônia, mais camadas de nós mesmos são reveladas. E cada vez que pensamos que entendemos algo, a vida nos convida a ir mais profundo, a perceber mais além.

E a vida é o verdadeiro campo de aprendizado. As experiências fora da cerimônia — os encontros, as provações, as alegrias, as tristezas — são as reais oportunidades de colocar em prática o que a medicina nos ensinou. O espírito da Ayahuasca nos segue, nos orienta nas mais sutis formas. É no silêncio do cotidiano, no olhar para o outro com mais empatia, no toque de nossas mãos ao lidar com a terra ou com um ser querido, que podemos ver se realmente assimilamos o que foi revelado.

Ao voltar ao mundo, você poderá se deparar com as dificuldades do dia a dia — mas lembre-se: esse também é o campo de cura. O verdadeiro trabalho começa quando você se permite viver com mais leveza, mais presença e mais consciência, mesmo diante dos desafios. Quando você percebe que não está sozinho, porque a medicina sempre está com você, nos gestos mais simples e nas reflexões mais profundas.

A jornada continua além das cerimônias, além dos estados de expansão. Ela se revela em cada respiração, em cada passo, em cada momento de silêncio interior. A Ayahuasca te mostrou um caminho, mas é você quem tem o poder de caminhar por ele. Cada dia é uma nova oportunidade de integrar o que foi visto, de dar espaço para o sagrado em tudo o que você faz.

O caminho não é uma linha reta. Às vezes, ele é sinuoso e cheio de desafios, outras vezes, ele é de uma beleza indescritível. O importante é caminhar com o coração aberto, com a mente tranquila e a alma disposta a aprender. A medicina nos ensina que a vida é um eterno movimento, uma dança entre o humano e o divino, entre o ser e o não-ser. E nós somos, a cada momento, a expressão dessa dança.

Quando olhar para o horizonte e sentir que o chamado da medicina ainda ecoa em seu ser, lembre-se: a jornada nunca termina. Ela é uma espiral que sempre nos leva de volta para casa — para dentro de nós mesmos, onde a verdade, o amor e a luz aguardam. A cada volta, uma nova perspectiva, um novo entendimento. A cada passo, mais próximo do todo, mais profundo no ser.

Por isso, saiba que o verdadeiro trabalho começa agora. E lembre-se: você já está no caminho. A Ayahuasca pode ter sido a porta de entrada, mas agora cabe a você caminhar com o que foi revelado. E, ao fazer isso, você se aproxima cada vez mais da grandeza da sua essência.

A jornada continua. Sempre.


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